Crise no Transporte: O Que Está Por Trás da Falta de Motoristas?

Artigo de Opinião

Crise no Transporte: O Que Está Por Trás da Falta de Motoristas?

O setor dos Transportes Rodoviários de Mercadorias enfrenta um desafio crescente: a escassez de motoristas qualificados. Este cenário poderá afetar significativamente as cadeias de abastecimento e a economia europeia.  De acordo com a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM), este problema está identificado "há alguns anos".

Ao nível global a União Internacional dos Transportes Rodoviários (IRU) alerta que a escassez de profissionais do volante pode duplicar até 2028, caso não sejam implementadas medidas significativas. Atualmente, mais de 3 milhões de vagas para motoristas estão abertas em 36 países estudados, representando 7% do total de cargos nesses locais.

Para mitigar essa insuficiência, algumas entidades sugerem a contratação de motoristas estrangeiros. A IRU lidera iniciativas como o projeto "Skilled Driver Mobility for Europe", que visa facilitar a contratação de motoristas qualificados de países terceiros para a União Europeia.

No entanto, é importante notar que a escassez de motoristas não é exclusiva da Europa, é uma tendência observada em várias partes do mundo, incluindo os Estados Unidos. A falta de profissionais no setor dos Transportes Rodoviário de Mercadorias é uma preocupação crescente que requer soluções abrangentes e colaborativas.

Raízes da Crise:

 A falta de motoristas no setor rodoviário é resultado de uma combinação de fatores. Entre os principais, destacam-se:

  •  Envelhecimento da força de trabalho: a média de idade dos profissionais do volante está a aumentar, com muitos próximos da reforma. A falta de renovação geracional é um problema crítico, já que poucos jovens optam por esta carreira. Por outro lado, o IP Trans (Instituto Profissional de Transporte) conseguiu que os candidatos obtivessem uma licença aos 18 anos, no entanto a idade mínima continua nos 21 anos. Alguns trabalhadores desejam seguir a profissão, mas, por não terem idade suficiente, acabam por optar por outros setores de atividade.
  • Condições de trabalho desafiadoras e o desprestigio social: contribuem, igualmente, para que a profissão não seja apelativa para os mais jovens. Ser camionista implica sacrificar muitas coisas, como a vida social e familiar, o lazer, bem como passar longas jornadas longe de casa e pressão por prazos rigorosos tornam a profissão menos atraente sem descurar a insegurança na estrada.
  • Burocracia e Formação: O processo para obter as licenças necessárias e a formação específica para conduzir veículos de grande porte pode ser demorado e caro, o que desencoraja a entrada de novos motoristas no mercado. 

Impactos no Setor e na Economia

A escassez de motoristas poderá refletir-se em toda a cadeia de abastecimento:

- Atrasos nas Entregas: Com menos motoristas disponíveis, as empresas enfrentam dificuldades para cumprir prazos, resultando em atrasos e, consequentemente, na insatisfação dos clientes.

- Aumento dos Custos Operacionais: A competição por motoristas qualificados tem levado ao aumento dos salários e dos custos associados ao recrutamento e retenção de pessoal. Esses custos são muitas vezes repassados ao cliente final, resultando em produtos mais caros.

- Riscos de Escassez de Produtos: nalguns casos, a falta de motoristas pode resultar em escassez de produtos nas prateleiras, afetando o abastecimento de setores críticos, como o alimentício e o farmacêutico.

 

Possíveis Soluções e Iniciativas em Curso

Emba a situação seja preocupante, várias estratégias estão a ser adotadas para mitigar a crise:

-Atração de novos talentos para a profissão: estão a ser desenvolvidos programas de formação e recrutamento voltados para jovens e minorias com o intuito de atrair uma nova geração de motoristas. Além disso, há um foco crescente em melhorar as condições de trabalho, incluindo a adequação das áreas de descanso, flexibilidade de horários e benefícios adicionais e mais prevenção contra os roubos.

 

-Digitalização e Eficiência Operacional: o uso de tecnologias pode otimizar rotas e minimizar tempos ociosos, tornando a profissão menos desgastante e mais cativante. A digitalização melhora a eficiência operacional ao automatizar processos, isto é, com tecnologias como TMS, GPS, e Inteligência Artificial, as tarefas tornam-se mais rápidas e precisas, minimizando esforços desnecessários. Isso torna a profissão menos cansativa e mais atrativa, aumentando a produtividade e a satisfação dos profissionais. Além disso, a análise de dados em tempo real permite ajustes estratégicos para um melhor desempenho.

 

-Incentivos Governamentais: nalguns países, os governos estão a oferecer incentivos fiscais e subsídios para a formação de novos motoristas, além de simplificarem a burocracia para a obtenção de licenças.

 

O Futuro do Transporte Rodoviário de Mercadorias

Para que o setor dos transportes rodoviários de mercadorias continue a crescer e a adaptar-se às instâncias de um mercado globalizado, é fulcral enfrentar a crise da falta de motoristas. A combinação de inovação tecnológica, políticas públicas favoráveis e a melhoria das condições de trabalho serão essenciais para garantir a sustentabilidade do setor.

Esta temática é complexa, mas não insolúvel exigindo uma resposta coordenada entre empresas, governo e entidades do setor (sindicatos e motoristas). O futuro do transporte rodoviário de mercadorias depende de ações que tornem a profissão mais acessível e valorizada, garantindo a continuidade do fluxo logístico essencial para a economia global.